Cumbia. Foto: '''Resistencia'

Cumbia. Foto: "Resistencia"


A CUMBIA E A ESCRAVIDÃO

Quando o tambor planta o grito de festa e fantasia, surge da alma de cada um dos ribeirinhos do Rio Magdalena, na parte baixa, uma alegria sem limites, a mesma alegria que sente cada colombiano, quer seja no país ou o exterior, quando ouve a melodia agradabilíssima de uma cumbia, ritmo musical que a Colômbia tornou conhecido no mundo muito antes que outros ritmos autóctones de nosso país.

A cumbia é uma das expressões melódicas mais representativas da Colômbia. Nela confluem três culturas: a negra africana, a indígena e a européia. A negra ofereceu o ritmo dos tambores, a indígena a flauta (de bambu e as gaitas), elemento fundamental na melodia, a européia (invasores), só contribui com algumas variações nas melodias, na coreografia e nos trajes dos dançantes.

A origem da cumbia remonta à época da escravidão e deriva da voz negra "cumbé" (dança dos negros em Cuba), que teve o significado de dança. Também se derivam de "caracumbé", jogo coreográfico que teve seu auge em no estado de Antioquia quando os negros trabalhavam na mineração, "para-cumbé", dança desaparecida e "cumbancha" que em Cuba significa Jogorio ou Parranda. Mas é indiscutível que a cumbia nasce da fusão cultural do negro e do indígena.

O local onde nasceu a cumbia é motivo de discussão de muitos estudiosos do folclore. Segundo o maestro José Barros, a cumbia nasceu no país indígena dos Pocabuy, na região do Banco, estado do Magdalena. Outros levantam que a cumbia deve ter nascido em Cienaga (Magdalena) ou em Soledad (Estado Atlântico). O único certo é que foi próximo aos assentamentos de negros, trazidos como escravos ao nosso país.


¡Arriba la rumba! Foto ''Resistencia''

¡Arriba la rumba! Foto: "Resistencia"


Já o escritor panamenho Nasciso Garay, em sua obra "Tradiciones y cantares de Panamá", descreve a dança e o festejo, fala da tradição ancestral e sua vigência no Panamá da cumbia, inclusive chegando a ponto de fazer crer que a cumbia nasceu nesse país. Esquece, porém, que o Panamá pertenceu à Colômbia até inícios do século XX.

No México, como em vários países latino-americanos, a cumbia colombiana teve uma aceitação enorme. São muitas as agrupações musicais que gravaram cumbia. Mas essas composições e interpretações estão muito longe do clima musical original, além dos instrumentos utilizados não serem os apropriados, logo antes de enriquecer, empobrecem a cumbia.

Os instrumentos típicos na interpretação da cumbia são formados por dois grupos fundamentais: o de percussão e o de sopro. O de percussão é composto por Tambora tambor de dupla emenda) que marca o baixo, Tambor alegre (tambor mediano) que conduz a linha rítmica, Chamador (tambor pequeno) que marca em contra-tempo o ritmo, Maracas - güiro em Cuba (cabaça recheada com grãos de milho ou pedras pequeninas de rio) e Guache (cilindro de metal também recheado com grãos de milho ou pedrinhas de rio).


Foto: ''Resistencia''

Foto: "Resistencia"


Nos instrumentos de sopro para a interpretação original, predominam as gaitas. A Gaita fêmea (flauta longa e vertical, com cabeça feita de cera de abelha, carvão vegetal e enfeite de pena de pavão), tem cinco orifícios e leva melodia. A Gaita macho é constituída da mesma forma, mas só tem um orifício e marca o baixo. A flauta de milho é pequena e feita com cana de bambu ou sorgo e tem seis orifícios com lingüeta, sendo executada de forma transversal.

No início a cumbia era só instrumento. A inclusão de letra e vozes foi posterior. Durante muito tempo foi o ritmo dominante no Litoral Atlântico, onde não só se compõe e se canta a cumbia, mas também existem ritmos típicos como o bullerengue, o mapalé e o porro. A cumbia é um ritmo interpretado em tom menor, no qual inicialmente participavam só os negros, em seguida a mestiçagem tornou essa tradição.

Há muitas formas de interpretar a cumbia, obviamente no que diz respeito aos instrumentos utilizados. Muitas orquestras têm realizado majestosas interpretações dela, com arranjos espetaculares, instrumentos de última geração, com vozes inquestionáveis, mas tem um papel importante a utilização do Clarinete e dos tambores, o que também se torna interessante para a difusão deste esplêndido ritmo musical no exterior.


Foto: Jason P.Howe, 2002

Foto: Jason P.Howe, 2002


Alguns conjuntos de vallenatos, outro ritmo musical colombiano, também têm interpretado algumas obras de cumbia e para isso têm utilizado outros instrumentos, mas sem fazer com que ela perda seu sabor original. Cabe destacar a interpretação feita pelo desaparecido maestro Luis Enrique Martinez na cumbia cienaguera e a de muitos outros artistas, sobretudo a dos vallenatos sava-neiros, ou seja, os dos Estados de Córdoba e Bolívar, que são maestros de maestros neste tipo de música.

Mas nenhuma interpretação é comparável com a que se ouve de forma crua e original, de especialistas empíricos e com instrumentos nada sofisticados, como o fazem os gaiteiros dos Estados de Bolívar, Córdoba, Sucre, Atlântico e Magdalena, na costa norte do país, onde têm nascido grandes compositores, entre eles, sem desmerecer os demais, ressaltamos a contribuição do maestro José Barros.

Ressaltamos também a contribuição de Jaime Bernardo, intérprete que têm feito parceria com os compositores guerrilheiros Julián Conrado e Cristian Pérez em trabalhos discográficos das FARC-Exército do Povo, em versões esplêndidas de cumbias guerrilheiras com conteúdo social, nas quais se reconhece o valor e a capacidade de luta de nossos e nossas combatentes, que convocam à organização do povo até alcançar a paz com justiça social e que expressam a alegria da luta fariana (das FARC).


Zamba ''Che''. Foto: ''http://www.communist.ru''

Zamba ''Che''. Foto: "http://www.communist.ru"
Canción "Zamba "Che".
Cancións de las FARC-EP.


Texto preparativo por: elbarcino@laneta.apc.org  

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